CONCURSO DE LORES - THEROS
Junto ao lançamento de Theros: Além da Morte tivemos o Concurso de Lores mais importante em tempos dentro da comunidade. Um Concurso que daria vida a própria historia da Academia Bacon Arcano dentro do Multiverso, que continuaria nossa própria aventura dentro dos vários planos de Magic e finalizaria com maestria o arco canônico criado dentro de Theros. Dessa forma, tivemos um membro escritor vencedor de tão importante Concurso: Gustavo Marques (Guto). Ele escreveu com maestria uma narrativa cativante que ilustra bem todos os sentimentos dentro de Theros apos os acontecimentos da edição. O Guto ganhou assim o devido destaque no grupo, em nossas redes, todos os prêmios (como Boosters e Cartas) e ainda a grande honra de ter sua historia completamente vinculada a Lore da Bacon Arcano!
O que vocês lerão a baixo é o resultado disso, juntamente com uma arte 100% própria criada pelo próprio autor para ilustrar a narrativa!
O que vocês lerão a baixo é o resultado disso, juntamente com uma arte 100% própria criada pelo próprio autor para ilustrar a narrativa!
Apreciem!
Arte por: Gustavo Marques
As Cinzas de um Êxodo.
Desperto com o roçar da areia em meu rosto. O calor invade a superfície do meu corpo, enquanto aquece os grãos amarelados sobre os quais repousava. Levanto-me e encaro a paisagem: nada além de uma vasta sequidão desértica. O Sol brilhava fortemente, e me vi obrigado a proteger meu rosto contra a luz e os ventos secos. Me pus a andar, procurando sentido em onde estava.
Estranhamente, eu sentia que já conhecia esse lugar, mesmo não havendo absolutamente nada além de areia. Sentia como se já estivesse vivido ali. Esse sentimento me acompanhava enquanto jogava minhas pernas na areia fofa e pesada. Notei, depois de pouco tempo, formas escuras no horizonte. Imóveis, bruxuleantes com o vapor que subia do solo, mas lá, distantes.
Disparei nessa direção. O sol pino não me fazia possível distinguir se era Norte ou Sul. Corri muito, mas fiz pouco progresso. As formas se tornaram distinguíveis, mas não mais próximas. Eram estruturas. Casa velhas, algumas colunas partidas... Haviam mais coisas, e eu avançava querendo descobrir.
Me distrai e tropecei em algo massivo e muito duro, soterrado no deserto. Era um elo colossal de uma enorme corrente que parecia fixa no fundo da Terra. Deuses, o que era isso?? Percebi, então, que haviam várias dessas correntes espalhadas ao meu redor, e as formas no horizonte se tornaram mais claras... Torres de vigia sucumbidas às bases, fundações de templos, restos de acampamentos e de estátuas... Eu estava em Meletis e já vivi esse pesadelo. Essa era a visão que o oráculo Medomai havia me gravado, o dia em que o fim de Theros chegaria. Eu acordei onde um dia fora o mar na costa de minha cidade. O deserto tomou conta assim que a deusa Thassa sumiu do mundo. Era isso. Esse é o fim de Theros como eu conhecia.
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"Capitão! Capitão Cleto! Capitão, acorde!" - reconheci a voz de Mírmidon, minha subalterna.
Recobrei os sentidos aos poucos, e percebi que ela balançava gentilmente meu corpo. Abri os olhos e vi seu rosto preocupado abrir um sorriso orgulhoso.
"Graças aos Deuses você acordou! Vencemos, Capitão! Nós salvamos Meletis! Nós salvamos Theros!" - chorava em alegria, enquanto me abraçava.
"Salvamos Theros de quê?" - pensei comigo mesmo, sem nada dizer. Eu estava muito confuso, meu corpo doía e minha mente naufragava.
"Vou chamar os curandeiros! Você precisa se recuperar, aqueles estranhos estão conclamando uma assembleia neste momento e você precisa estar lá!" - se virou Mírmidon, abandonando rapidamente a enfermaria. Quem eram esses estranhos? O que estava acontecendo? O cheiro do lugar era incrivelmente agradável e não me permitiu responder essas questões. Cravo e erva doce rescendiam no lugar, me dando calma. Era o cheiro de casa. Me apoiei na maca e tentei me lembrar do que acontecera, sem sucesso. Meu corpo estava completamente enfaixado, do torso aos joelhos, e eu sentia uma dor muito forte nas costelas.
As portas do lugar irromperam com Mírmidon, minha corajosa subalterna, acompanhada de duas vestais de longos cabelos negros e um homem curvado com aspecto de sábio. Ele se aproximou de mim, analisou minhas ataduras, checou os pontos de dor e respondeu:
"Você se recuperou muito rapidamente para alguém que foi ferido de maneira tão grave." - sentenciou positivamente.
"Vá! Beba este remédio e vá para a Assembleia. Seu povo precisa de você. Mais uma vez, muito obrigado, Capitão Agnos" - acrescentou o ancião, se retirando com passos decididos.
Bebi o remédio e respirei fundo. O gosto adocicado era muito agradável, e o calor da bebida se espalhou pelo meu corpo, seguido por uma sensação de alívio das dores. Me levantei com o apoio de minha soldada, e juntos caminhamos para fora da enfermaria. Muitas coisas passavam por minha cabeça, mas eu sentia que não conseguia responder nenhuma delas ainda.
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O caminho entre a enfermaria e o coreto, centro da Assembleia, não impunha mais do que 3 minutos de caminhada, mas meu estado de saúde me custou um pouco mais do que um sexto de hora para completar o curso. Enquanto eu lentamente avançava, percebi uma Meletis muito diferente da que me recordava. Numerosos filetes de fumaça branca e esparsa se erguiam em toda a cidade, indicando pequenos incêndios contidos. O cheiro no ar era de aço, poeira e cinzas, abaixo de um céu de alaranjado morto. A relva jazia pisoteada entre as pedras das vias, cidadãos corriam a todo momento carregando escombros, água, mantimentos ou notícias. A cidade toda estava em movimento para reconstruir seu estado original. Ao fundo, consegui ouvir um cantarolar latente de sacerdotes e outros religiosos rezando no Templo. Me contive um pouco.
“Eles ainda rezam para que os deuses voltem. Já não acho que isso vá acontecer.” – disse Mírmidon, percebendo meu interesse no Templo.
“O que quer dizer com os deuses voltarem? Eles partiram? Quando?” – indaguei, confusamente.
Mírmidon me encarou tristemente, abaixou a cabeça, tornou a me olhar nos olhos e respondeu:
“Aesopus disse mesmo que seu ferimento foi grave... você sequer se lembra do que causou toda essa guerra. Acalme-se, Capitão. Em breve você será relembrado.” – respondeu, indicando a entrada do coreto com a cabeça. Havíamos chegado, finalmente.
Mírmidon me ajudou a subir as escadas que davam acesso ao arco de entrada para o lugar. Dei o primeiro passo dentro do átrio do coreto e a luz das janelas coloridas iluminaram meu rosto. Lá dentro vi milhares de pessoas, de capitães e generais, a governantes e anciãos, passando por sábios, oráculos, filósofos e religiosos de todas as póleis de Theros. Em cima de uma elevação, um homem alto, de barba hirsuta e cabelo desgrenhado impunha sua voz forte sobre os demais, chamando a atenção de todos. Abaixo dele, toda sorte de pessoas e criaturas estranhas, nenhuma delas pertencentes a Theros, e todas sob o emblema que lia “Bacon Arcano”. Assim que cheguei, o salão se calou.
As paredes enormes do coreto faziam da cena algo muito opressor. A luz era forte, mas começava a escurecer e pescoços curiosos se erguiam para me observar. Era estranho, mas eu já tinha vivido aquilo antes. De certa forma, eu conhecia os estranhos, conhecia o homem alto e conhecia aquela ocasião. Eu só não conseguia me lembrar o porquê de todo esse sentimento, como se parte da minha memória tivesse sido arrancada de mim.
“Capitão Cleto! Alegra-me ver que está bem! Companheiros! Devemos o destino de Theros a todos que participaram desta guerra, mas especialmente a Cleto de Meletis, que sofreu o maior dano de Ashiok e seus lacaios! Por favor, se faça confortável, Cleto. Discutiremos o destino de Theros neste momento.” – bradou fortemente o homem na elevação do pequeno palco.
Ashiok... sim, eu me lembrava daquilo. Uma criatura sem rosto e seus pesadelos vivos, eu me lembrava de todos eles.
“Todos que estão aqui, cuidaram de uma parte dessa enorme luta! Retomamos a Acros que foi sitiada por minotauros, harpias, serpentes e bárbaros! Defendemos Meletis dos saques de piratas e dos ataques ferozes de krakens, polvos, tritões, sirenas e outras criaturas do mar profundo! Auxiliamos Iroas e reerguemos as defesas de Setessa e suas Quatro Torres contra as feras nyxnatas! Mas o mais importante, todos aqui fizeram isso com a força de seu povo e a força de sua fé em si mesmos. Nós, Planeswalkers da Bacon Arcano, simplesmente atendemos ao chamado de nossa missão, e fizemos nossa parte!” – o homem gritava forte, inspirando os corações de todos que ali estavam. Continuou:
“Sem a ajuda de todos vocês, povo de Theros, jamais poderíamos ter fechado as Fendas do Submundo que foram abertas quando Érebo e os outros deuses abandonaram esse plano. Lutamos bravamente contra aqueles que um dia foram vivos, derrotamos criaturas vindas de pesadelos e cumprimos com a tarefa que o destino dos deuses nos impôs! Salvamos a Theros mais uma vez!” – completou o homem.
“No entanto, nós, que somos de tantos outros planos do multiverso, não podemos cuidar da reconstrução da cultura e sociedade de vocês. Deixamos Acros com seus originais reis, descendentes de Anax, Iroas e Setessa com suas respectivas Gerúndias, os Conselhos dos Anciãos, e Meletis, com seu governo de intelectuais!” – concluiu o Planeswalker líder.
O murmúrio baixo se espalhou pelo lugar, infestado de comentários alegres sobre as vitórias e sobre o futuro de Theros. Lentamente, me recordei de toda história. Os oráculos rezando incessantemente pela volta dos Deuses, Elspeth e sua lança, o triunfo de Érebo, a rixa de Heliode, a volta de Anax e Tymaret... tudo isso agora fazia sentido, tudo isso voltava a luz.
“Ainda há mais um anúncio a ser fazer!” - interrompeu, com veemência, os comentários do público.
“Capitão Agnos foi fortemente ferido em batalha, após ser atingido pela magia de um dos pesadelos de Ashiok. Mas os momentos de maior tristeza podem nos revelar grandes potenciais. No meio do campo de batalha, todos nós Planeswalkers da Bacon Arcano sentimos mais uma centelha se acender e, mesmo no calor da guerra, nos alegramos por conhecer mais um de nós, e é você Agnos. Se aceitar, poderá conviver conosco nos Salões da Academia e desenvolver suas novas habilidades. Sairá do plano de Theros e percorrerá todo o multiverso em missões para manter a ordem dos mundos. Este é seu destino, Agnos. Você cumprirá com ele?” – finalizou o homem no palco, estendendo sua mão em minha direção.
Olhei para ele e percebi todos os outros feiticeiros, tão diferentes, olhando com felicidade para mim. Cada um deles desempenhou algo extraordinário e incrível nas batalhas, controlando elementos, conjurando feras ou juntando exércitos ou magias.
Lembrei de meu pesadelo, onde o lugar em que nasci estava soterrado em areia e esquecimento. Lembrei que eles evitaram esse destino e permitiram que eu estivesse vivo hoje. Meu coração se encheu de alegria, e, levantando com dificuldade eu caminhei ao lado de meus novos companheiros.
“Sim, Tutor. Cumprirei meu destino.” – respondi.
E transplanamos todos, deixando para trás uma nova esperança para o lar dos deuses.


Sagaz e pespircaz... Parabéns guti
ResponderExcluirSério mesmo, as lores dessa comunidade são sempre espetaculares... Mas essa se superou. Arrepiei lendo, amei a atenção aos detalhes, e achei realmente incrível a capacidade do autor de nos colocar dentro da história sem muito esforço. Parabéns sinceros, tenho orgulho de fazer parte de um grupo com pessoas tão talentosas!
ResponderExcluirEu achei muito interessante, principalmente com esse negócio dos deuses terem abandonado o plano, a parte do discurso foi muito legal e até inspiradora
ResponderExcluirSocorro! Eu não sabia que esse menino Guto é tão talentoso na escrita. 🖤
ResponderExcluirE esse conto me deu até vontade de voltar a me atentar mais a Theros e a toda a história relacionada a Magic. E JÁ QUERO SABER QUANDO O GUTO TIVER MAIS COISA PUBLICADA AQUI U.U
AAAAAAAAAAAAAAAAAA que Lore Incrível!!! Guto tu é de mais mano!! até bateu vontade de Jogar Magic T-T
ResponderExcluir(quem comentou isso foi o Bruno Ramos é só que deu problema e postou anônimo)
ExcluirAchei interessante essa relação dos deuses e o plano, também gostei muito do cuidado com os detalhes e a imersão que o texto causa no leitor
ResponderExcluirQue história que esse cara criou da para perceber que fez com carinho saca que bem escrita e bem planejada incrível
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