Os Arquivos de Ravnica: Parte 3 - Os Dimir

Sejam bem-vindos aos Arquivos de Ravnica.


Aqui vocês terão o completo estudo sobre 5 das 10 guildas de Ravnica. Serão estudadas: Os Golgaris, Os Boros, Os Dimir, Os Selesnya e os Izzets. Vocês encontrarão todo o material reunido pelos Tutores, trago direto de Ravnica. Assim como também estudos sobre esse material e analise dos mesmos. Será de grande importância estarmos preparados para a nossa futura viagem a Cidade de Ravnica, e não conseguiremos isso sem ter o total entendimento sobre o funcionamento das Guildas; mecanismo que rege o modo de vida, a política e até a cultura do Plano. Cada Estudo sobre Guildas será dividido em duas partes: a primeira parte sendo a parte técnica, e outra a parte do Cotidiano.

- Parte Técnica: na parte Técnica passaremos por toda a estrutura da Guilda estudada no dia, falando sobre suas características, seus membros e seus objetivos.

- Parte do Cotidiano: olhar apenas o lado genérico, o lado mais exposto, não é a nossa visão. Aqui faremos uma leitura sobre o Cotidiano de um membro comum da respectiva Guilda estudada. Mostraremos um exemplo do o que seria um dia-a-dia na maior Cidade do Multiverso, algo que trará uma profundidade ainda maior sobre o que é ser membro de uma Guilda.

Com esses dois tópicos vocês, Planeswalkers da Academia Bacon Arcano, poderão ter não só o entendimento sobre as Guildas, mas também ter afeição por alguma (ao ponto de se identificar dentro dos próprios conceitos da Guilda) como ter repulsa (não concordando com os ideais da mesma).

Esse é Objetivo principal desse trabalho realizado pelos Tutores: conheçam Ravnica, a Cidade das Guildas, de uma maneira nunca antes vista.
 ______________________________________

Hoje no terceiro dia de estudo vamos estudar a guilda que é altamente perigosa. É perverso, mas sutil. Implacável mas cuidadoso. Brutal mas secreto: *A Guilda Dimir*


ARQUIVOS DE RAVNICA
Arquivo 3: A Guilda Dimir
Parte 1 de 2 –  Técnica

Nome: A Casa Dimir

- CONTEXTO:

Então, o que acontece quando você mistura o desejo de mudar o mundo com o desejo de controlá-lo? Você tem os Dimir, a guilda cujo objetivo principal é subverter o mundo para seus próprios meios. (O mais secretamente possível, é claro). O objetivo final deles, Conhecimento irrestrito e poder absoluto. Como eles mesmo falam ninguém e todos são seus agentes, as vezes até sem saberem. Os Dimir são construídos sobre uma rede de segredos e acordos de por detrás dos panos, e podem contar com os melhores espiões e assassinos de Ravnica entre suas fileiras. Os membros do Dimir alinharam o engano e a manipulação acima de tudo, e o sigilo da guilda foi tão importante para seus fundadores que foi até mesmo codificado no pacto original da Guilda. Por dez mil anos, a Casa Dimir só era conhecida por meio de rumores e sussurros. Ainda hoje, a maioria dos membros da Casa Dimir sabe muito pouco sobre a guilda e sua liderança. Todas as informações pertinentes sobre a Casa Dimir são estritamente secretas, mesmo para aqueles que a servem com lealdade inabalável. Aqueles que não servem ao Dimir ainda podem acreditar que a existência da guilda é um boato bobo ou uma perigosa teoria da conspiração. Mesmo aqueles que contratam o Dimir para transportar segredos ou lidar com assuntos delicados discretamente podem não saber com quem estão trabalhando.


- FUNÇÃO:



Os Dimir são como qualquer guilda de Ravnica, servindo a um propósito público para o bem da cidade. Eles geralmente servem como mensageiros, investigadores, repórteres e arquivistas. Eles servem a propósitos gêmeos: dar ao resto de Ravnica uma face "amiga" da guilda e ser os olhos e ouvidos do Dimir no nível da rua. Muitos candidatos iniciantes à guilda Dimir começam como agentes de rua até que possam comprovar sua confiabilidade. Mas há um nível de Dimir escondido até de seus próprios membros. Em seu nível mais baixo, o mestre da guilda Lazav e seus contatos diretos guiam e manipulam as operações da guilda. Os Dimir não têm dias especiais, costumes ou rituais. Á vista de todos Os Dimir são encorajados a viver vidas previsíveis e cheias de costumes, sendo o mais normal possível, mantendo empregos estáveis e participando da comunidade, mas sempre mantendo os olhos e ouvidos abertos, absorvendo todos os possíveis pedaços de informações, e aguardando seu momento para finalmente servir a guilda.

- LIDER:



Lazav é o atual mestre de guilda da Casa Dimir. Ele é um metamorfo poderoso que usa espionagem e uma rede de agentes leais para consolidar o poder e desentender quem se opõe à sua guilda. Além de ele ser um metamorfo, os detalhes sobre o Lazav são escassos. Ele afirma receber ordens de algum poder maior. Lazav usa um manto de couro esvoaçante, feito da pele de algum animal que foi extinto há muitos anos. Ele é capaz de distorcer a realidade e parece atrair toda a magia em seu entorno em direção a ele. Depois de Szadek, o último líder dos dimir, Lazav conseguiu juntar o que restava do Dimir. Um ritual deveria permitir que eles comungassem com o espírito do mestre anterior, no entanto, não se sabe se isso era verdade ou apenas um ardil. Desde que a capela Dimir foi perdida, eles construíram um novo Duskmantle, que substituiu a antiga estrutura. Lazav pode ser o único qualificado para ser o mestre da guilda Dimir: ele é um mago que muda de forma e cujo gênio misterioso brilha com impressões telepáticas de toda a rede de Dimir. Ele se transforma em uma variedade de disfarces, conforme suas necessidades e planos exigem; ele pode sair para as ruas da Ravnica como uma viúva idosa para espiar o bazar, tornar-se um hussardo vedalkeano do Senado de Azorius para se esquivar de um posto de controle, ou se transformar em um comerciante da Rua Tin para enganar um nobre passageiro. 


- REGIÕES:



Duskmantle: restaurado mas não revelado. Duskmantle, a capela de Dimir, caiu em desuso após a queda de Szadek do poder, quando o conhecimento de como encontrá-lo foi perdido. Duskmantle foi restaurado nas profundezas da área subterrânea de Ravnica, protegido por alas de memória, para que ninguém realmente saiba se existe, muito menos se lembra de sua localização exata.

A Biblioteca Ismeri: uma das principais localizações de Dimir é bem conhecida em toda a Ravnica: a Biblioteca Ismeri oficialmente sem guilda. A biblioteca está aberta a todos os cidadãos e é gerida exclusivamente por membros da guilda Dimir. Muitas guildas - a saber, Azorius, Orzhov e Boros - todos sabem que deve haver algo acontecendo dentro das paredes da biblioteca, mas elas não foram capazes de descobrir o quê. O pensamento de crimes sendo cometidos à vista os deixa loucos enquanto tentam decifrar e detectar o que os Dimir estão fazendo. A Biblioteca Ismeri é um dos centros de comunicação de Dimir. Mensagens são magicamente escondidas dentro das centenas de milhares de livros armazenados aqui. Agentes Dimir usam a biblioteca para trocar mensagens, reunindo fragmentos de mensagens retirados de vários documentos. Cidadãos Ravnicanos nunca sabem se o livro ou pergaminho que eles estão lendo podem conter mensagens criptografadas que soletram atribuições, diretrizes ou alvos de assassinato de Dimir.
Ponto alto de  Dinrova: ponto de encontro dos magos. No telhado de um enorme edifício conhecido como Dinrova, os maiores guardiões do Dimir detêm o conselho. Normalmente, o telhado está fechado. Durante os ritos noturnos, porém, os painéis do teto se abrem, revelando a arquitetura de morcego do Dinrova, típica do Dimir. Espectros e outros horrores indescritíveis patrulham os céus acima do Dinrova para afastar os olhos indiscretos ou visitantes indesejados.

Beco do Bane: para aqueles que perguntam às pessoas exatas e pagaram as bolsos certos, o beco do Bane é provavelmente o destino final para ter acesso à ponta da extensa rede de extorsão, intimidação, assassinato e corrupção de Dimir. Muito cidadãos de Ravnica com um problema que precisam de ajuda acabaram em Bane apenas para saírem de lá com várias centenas de moedas faltando, sem a menor ideia de por onde passou. Mas quando a pessoa retorna para casa, o problema foi misteriosamente resolvido.

Nightveil: o recinto de Nightveil é onde a elite Dimir reside. Construído em um trecho de terra que tem entre suas características um elaborado sistema natural de cavernas, Nightveil é um paraíso para os aventureiros urbanos, se é possível passar pelos guardiões espectrais de patrulha. Túneis e portões entortam e giram, levando a criptas afundadas e mansões de paredes altas, todas no estilo de arquitetura de Dimir. Embora haja grande suspeita sobre o envolvimento dos residentes de Nightveil em várias tramas sombrias, de alguma forma eles escapam de todas as tentativas de identificar qualquer irregularidade neles. Isso se deve ao meticuloso apagamento de Dimir de toda e qualquer trilha de memória para eles, mas também a seus numerosos agentes plantados nas várias guildas envolvidas no julgamento de empreendimentos criminosos. Os crimes da lei de Orzhov, os advogados de Azorius e os comandantes de Wojek têm entre eles agentes da Casa Dimir.


 - OPINIÕES:

Aqui está um compilado de frases que definem a opinião dos Dimir para com as demais Guildas:

Azorius: "Que desperdício de poder do verdadeiro conhecimento. Deixe-os embaralhar seus papéis um pouco mais."
Orzhov: "Suas estruturas ostensivas são uma fachada para suas mentes minúsculas e podres".
Izzet: "Eles são verdadeiros buscadores de conhecimento, mas suas ferramentas são caóticas e carentes de direção".
Rakdos: "Sua carne está disposta, mas suas mentes são fracas".
Golgari* "Pegue nossos cadáveres e nosso lixo, e não se esqueça de levar o seu cheiro com você."
Gruul: "Sempre que precisamos de um motim, um bode expiatório, ou ambos, os Gruul são sempre tão convenientes".
Boros: "Qualquer coisa tão previsível pode ser destruída ou alterada com um mínimo de previsão".
Selesnya: "Assim que pudermos nos infiltrar na Worldsoul, eles nos servirão como nenhuma outra guilda poderia."
Simic: "Suas mentes são estranhas, mas a curiosidade nos intriga. Precisamos encontrar uma maneira de saber mais."

- AS MAGIAS DIMIR:

Nessa sessão vocês poderão ter uma breve visão dos estilos das magias da Casa Dimir, podendo assim usar esse estudo a favor de vocês, mantendo-se salvos de situações de possível confronto com a Guilda, como também usar das próprias magias para se protegerem.

- Nightveil Sprite:


Aqui temos uma criatura de duas manas, sendo uma azul, 1/ 2 em poder e resistência; uma fada representante dos Dimir. Ela possui voar e Survey, sendo a segunda a mais nova habilidade Dimir! Survey, que em português fica ‘’Vigiar’’ representa muito bem os Dimir. Com essa habilidade você poderá manipular um número de cartas do topo do seu grimorio (sendo o tanto de cartas o Numero do Vigiar).
O Vigiar funciona como um Scry, permitindo você olhar as cartas do topo do seu grimorio e coloca-las de volta, escolhendo sua ordem caso seja mais de uma. Porém, com o Scry, caso você não queira a carta, você poderá manda-la para o fundo do grimorio. Com *Survey*, ao em vez de mandar as cartas ‘’indesejadas’’ para o fundo do seu grimorio, você as mandará para o seu cemitério caso assim queira. Isso é algo extremamente interessante e pode funcionar até melhor que o Scry, caso o seu grimorio tenha uma boa interação com o cemitério, é claro.
Essa nova habilidade está representada na Nightveil Sprite. Toda vez que ela atacar, você usará Vigiar 1 (olhará a carta do topo do seu grimorio e a colocará de volta no topo, ou em seu cemitério)
Tem uma habilidade tão Dimir como Vigiar? E o Flavor da Nightveil Sprite também representa bem a Guilda:
‘’Estamos no quadragésimo andar, com uma janela e sem varanda. É impossível alguém entrar’’ - Minosz, chefe da seguraça Orzhov  (possivelmente minutos antes de ser furtado por um Dimir)

- Discovery/ Dispersal


Temos aqui mais um Split Card incrível, esses cards únicos que possuem um estilo 2 em 1, podendo você optar por usar ou um lado, ou outro. Dessa vez esse Split Card contextualiza bem dois tipos de Magias dessa Guilda. De um lado Discovery (Descoberta), você tem um feitiço de duas manas, sendo uma genérica e uma hibrida Dimir (azul OU preta), com ele você usará Survey 2 (olhando assim 2 cartas do topo do seu grimorio) e logo depois comprará uma carta. Do outro lado, Dispersal (Desarticulação) você tem uma instantânea de 5 manas, sendo 3 genericas, 1 preta e 1 azul. O efeito é bem poderoso e poderá atrasar ou até mesmo desmantelar bem a estratégia dos seus oponentes: Cada oponente retornará para sua mão uma permanente que não seja terreno com o maior custo de mana entre as permanentes que ele controla, e logo depois cada oponente descartará uma carta. De um lado (Descoberta) uma mágica simples e extremamente eficaz, que poderá manipular as suas compras de cartas seguintes, te gerar uma compra e até mesmo achar peças importantíssimas para sua estratégia dentro do grimorio. Do outro lado (Desarticulação), uma mágica que lidará bem nos turnos mais altos com a parte mais pesada da estratégia dos seus adversários! 
__________________________________

ARQUIVOS DE RAVNICA
Arquivo 3: A Guilda Dimir
Parte 2 de 2:  O Cotidiano

Conto 3 – Sol de Outono


Caminho calmamente pelas vielas da cidade com minha agenda em mãos. Não pretendia sair hoje, muito menos em um horário tão inconveniente. Porem minha caneta pena perdeu a ponta no meio de uma importante anotação. Olho pela fresta no telhado e avisto o Sol; seus raios já iluminam boa tarde da cidade, a feira da região oeste já deve ter começado. Apresso o passo. De qualquer forma, em contrapartida, é mais no início da feira que os comerciantes estão mais suscetíveis a diminuírem os preços pelo sono ainda nos olhos, até mesmo sem a necessidade de técnicas alternativas de persuasão.
Sou obrigado a sair da meia penumbra pois me aproximo da feira; seria pedir muito poder fazer todas as compras fora da luz do dia. Esse luxo, somente depois dos portões da Casa. O clima nessa época da cidade fica horrível. Tudo se torna tão claro, cores quentes e vivas, dês das folhas ao sorriso dos cidadãos. Levanto as golas do meu sobretudo e puxo meu capuz. Para os fora da Casa Dimir, o ato de andarmos assim sempre foi visto como algo envolto de egocentrismo, mistério, e principalmente estilo. Sempre me incomodou o fato de não notarem o obvio: essa vestimenta permite ver tudo, enquanto do seu rosto, não veem nada. Sua expressão fica totalmente vedada, protegida de toda luz, e jamais vão saber se você está calmo, furioso ou, principalmente, enganando.
Adentro na feira. Passo me desviando de vários sem Guildas que vieram adquirir os ingredientes para o seu calmo, sem graça e comum almoço. Uma centaura Selesnya prontamente chama a minha atenção e me entrega um panfleto, juntamente com um sorriso que chega a ser assustador de estático.
‘’Lute por uma causa nobre!’’ ela me diz, altiva, e continua seu caminho. Por que essa Guilda nunca consegue ficar na deles? No planfeto, alguma coisa qualquer menos importante que o meu objetivo aqui. Eu o enrolo e coloco no bolso.
Começo a olhar as bancas em busca de algo que me chame atenção; as ideias em minha cabeça estão cada vez menos frescas. Números, endereços, uma complexa e completa logística que não pode ser perdida, nem ao menos esquecida por partes, começa a se despedaçar como fragmentos em minha cabeça. Balanço a cabeça, desviando a terrível ideia de perder informações. Preciso de uma caneta.
Paro subitamente com um brilho dourado vindo do meu periférico. Em cima de uma das bancas, uma belíssima caneta preta se repousava. Eu me aproximo da banca. Ela era azul, mas não um azul chamativo. Era de um azul escuro, brilhante. Contornos dourados, puro ouro fino, cresciam ao seu entorno, circulando e uma ponta até a outra. De fato um belíssimo exemplar.
‘’1 moeda de ouro pela caneta’’ eu digo observando a caneta.
‘’Hahaha, vocês Dimir acham que sempre sabem o preço das coisas, pelo menos o preço que vocês querem pagar, é claro.’’ o comerciante me diz ‘’São 3 moedas de ouro, essa caneta é originada de Utvara. Mas você sabe muito bem disso.’’
‘’Utvara, sei.’’ eu finalmente ergo a cabeça e o observo. É um humano, careca, acima do peso, estatura média, expressão desconfiada, postura defensiva, objeto comum, fácil persuasão. Pego a caneta e passo a observa-la.
‘’Se isso for mesmo de Utvara, vale a minha moeda de ouro’’ digo enquanto o olho através de minha gola e da caneta.
‘’Olha, apenas porque estamos no início desse belo dia, faço a duas moedas de ouro. Mas é para fecharmos mesmo’’.
‘’Um de ouro, uma de bronze.’’ rebato
‘’Uma de ouro e uma de prata’’
Eu coloco a mão em meu bolso e puxo as moedas. Entre os meus dedos a mostro, com a mão aberta, uma moeda de ouro e duas de bronze.
‘’Ok ok’’ ele me diz. Eu o entrego as moedas e já me viro. Rapidamente molho minha nova pena no frasco de tinta preso a minha cintura e abro meu caderno de anotações. Essa caneta vale muito mais que três moedas de ouro.  Mas isso não importa, preciso passar as anotações da minha cabeça para a agenda rapidamente. Pressiono a pena sobre a folha.
Ao meu lado, um pouco distante, um comerciante aparenta relatar algo a um guarda Boros de baixo escalão. O guarda está de costas para mim, enquanto o comerciante está de frente. Sem muito perceber, acabo escutando a conversa.
‘’Eu estou te dizendo, a cada dia que passa essa raça chamada Golgari fica cada vez mais folgada’’ o comerciante esbraveja para o guarda ‘’Ela simplesmente pegou o produto, jogou as moedas que não pagavam nem metade do preço, e foi embora!’’ sua expressão não parece nada contente, ele gesticula com as mãos e gera uma boa abertura nos lábios ao falar. Mais um problema publico, dentro da cidade, a luz do dia. Apenas um Golgari de fato conseguiria deixar tantos rastros em um serviço sujo. Ele continua ‘’Eu falo todo o dia, todo o dia! Todo mundo aqui em volta sabe. Nos damos muito liberdade para essa Guilda de Ratos ao deixarmos eles saírem as ruas assim, livremente! Por que não fazem um cadastramento de todos que saem e entram daquele esgoto enorme que chamam de casa? E agora fica nisso, fica por isso mesmo. Vocês Boros nunca fazem o serviço de vocês direito. Onde estava um de vocês aqui quando isso aconteceu? No final, vai ficar por isso mesmo. Eu saio no prejuízo, enquanto vocês ficam por ai, na ronda de vocês fingindo que fazem algo.’’
Acho toda a situação engraçada de tão constrangedora. Balanço minha cabeça lentamente enquanto dirijo a pena novamente ao topo da folha.
‘’Certo, Senhor.’’ A Guarda diz, e é então que paro de vez minha mão sobre a folha. Sua voz... ‘’ Você poderia descrever novamente o item furtado?’’
Olho em direção daquela voz. De relance vejo seu rosto. Ela é ruiva, e mesmo à distância, consigo ver o brilho de seus olhos verdes. Suas mãos brancas estão rentes a um caderno de ocorrências. Seus cabelos, bagunçados, soltos, balançam enquanto gesticula de maneira firma.
‘’Eu preciso de uma descrição completa, assim poderia inventariar o item e manter uma busca’’ sua voz é tão fina.
Começo lentamente a andar para uma posição mais privilegiada, uma que posso ver o seu rosto. Me encosto em uma banca perto, e finjo anotar coisas em meu caderno de cabeça baixa. Porem meus olhos estão totalmente na cena. Seu rosto era como eu imaginava; fino, porém não muito. Ela gesticula com braços, parece tentar acalmar o comerciante. Logo mais faz mais anotações em seu caderno e então o guarda. Coloca a mão no ombro do desolado comerciante, dá um aceno de cabeça tranquilizador, e então se retira sumindo de minha vista, indo em direção a rua principal da feira.
Eu começo a pincelar a agenda e só quando termino vejo que aquilo não faz o mínimo sentido. Todos os dados da minha cabeça se esvaíram.
Essa estranha sensação que estou sentindo. Franzo os cenhos, sozinho no canto da rua. Deve ser ansiedade, penso.
-
Ando de um lado para o outro em meio a escuridão do beco. Achar o seu endereço, seu número e seu nome foi a parte mais simples. Porém, agora, eu não faço ideia de como prosseguir. Estou em frente a sua casa. Me agrada a conveniência do apagão ocorrido em todos os postes da rua momentos atrás, uma breve cortesia Izzet; transformando busca desenfreada por conhecimento, em explosões no final. De qualquer forma, isso me deixa mais livre aqui em baixo, no escuro total.
Sua janela está logo ali, a luz das velas estão acessas. Um sombra, a silhueta do o que poderia ser uma pessoa, tremula contra a parede. Seria ela, ou uma outra pessoa? O Boros são tão previsíveis, sempre a risca dos comandos de algo superior e sem sentido, sempre tão faceis de serem desmontados. Mas por que estou com essa estranha sensação de estar a um passo atrás de uma mera recruta deles?
Na realidade, para mim é um mistério a razão do o que me faz estar aqui, a esta hora da noite, em frente para sua casa. Talvez fosse por impaciência, ao certo.  Com minhas mãos dentro do sobretudo dou passadas impacientes pelo chão de pedra. Eu paro contra a parede, encosto minha cabeça contra o muro e me ponho a pensar. Eu poderia ir até sua porta, bater como se fosse algo normal. Diria que a vi esses dias e... Não, não. Isso é horrível. É tão expositivo! Como eu poderia dizer que estava a observando de longe em algum lugar por ai? Isso soaria bizarro.
Ela talvez saia para comprar algo para jantar, e então eu poderia chegar ao seu encontro e dizer... não, isso seria ainda mais inconveniente. Pareceria que fiquei aqui, por horas, observando sua porta. Eu preciso pensar em algo, alguma outra coisa. Esse estranho aperto no peito que não para, como se algo devesse acontecer. Eu divago sobre o meu dilema, e então penso em como geralmente progrido. Como progredi até aqui, afinal.
Informações.
Sim, sim. Eu já tenho vários dados, porém não são o suficiente. Não é todo o necessário. Se eu conseguir mais, montar um banco de informações é o próximo passo. Com isso o que fazer, e como fazer, será a coisa mais fácil e clara. Olho a sua janela, ela está fechada. É um modelo supersimples. Madeira de mogno, duas partes, vidro comum. A fechadura deve ser um insulto de tão ridícula.
Eu subo no prédio de frente para o seu, segurando com uma mão em uma deformidade do prédio, eu me viro no ar e tenho a clara visão do canto mais próximo do seu quarto; ao mesmo tempo que estou completamente invisível aqui. Fico ali nessa posição, dependurado, por alguns bons minutos. Em um momento consigo ver sua mão repousando uma espécie de agenda sobre uma das cômodas ao lado de sua cama.
Desço e rapidamente já estou nas bordas de sua janela. Através do vidro da janela, a olho de relance. Ela está de costas, sentada na cama. Parece polir sua armadura. Sinto uma sensação estranha, que chega a ser absurda para mim. Pela primeira vez me sinto incomodado por estar observando alguém, na surdina. Suas costas estão quase completamente lisas, apenas uma grossa e gasta faixa a tampa. Eu desvio meu olhar sem saber o porquê.
Certo, eu preciso terminar isso logo. Como o previsto, sem nenhuma dificuldade abro o pequeno cadeado de sua janela. O jogo para trás, por cima do ombro, ele vai parar em algum canto distante da cidade. Usar isso para fechar algo é a mesma coisa que não usar nada. Com cuidado abro a janela, nenhum ruído. Puxo rapidamente a agenda sobre a cômoda e a guardo dentro do meu sobretudo. É um diário. Já estou na metade da descida para o encontro da rua quando subitamente paro. Olho para cima avistando sua janela aberta. Balanço a cabeça negativamente zombando dos meus próprios pensamentos. Subo novamente. Puxo de minha bolsa de serviço um cadeado idêntico ao dela, porém, esse é de uma qualidade Dimir. O encaixo na janela aberta e desço novamente.
Isso irá impedir que abram tão facilmente sua janela.
-
Com um café sobre a mesa, repasso as últimas anotações da minha agenda. Uma dupla de Izzets, exaltados se sentam em uma mesa próxima. Eles riem abertamente de algum acontecimento muito engraçado. Pelo menos para eles. Dou um gole no café com gotas de mel tão bem falado no diário emprestado da Recruta. De fato, o café aqui é incrível. E eu nem gosto de café.

Pego minha caneta pena. A coloco sobre o papel, respiro fundo e a olho a distância. Seu cabelo é tão vermelho e brilhante que poderia ser confundindo com as folhas das arvores nesse outono. Olho novamente para minha folha. ‘’Sol de Outono’’, escrevo no topo.


Arte: Raquel Araujo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lista de Banidas Atualizada

FORMATO OFICIAL BACON ARCANO - TOICINHO

Decklists: Um Guia